O Brasil está carente de ídolos! Isso é bom ou ruim? Me refiro aquela figura que abraça toda uma nação e é admirado por ela. Aquele que representa em uma determinada época o imaginário social, seja de adultos ou crianças, homens ou mulheres. O ídolo é a figura de adoração, onde projetamos expectativas e desejos colocando sobre ela a capacidade de realização.
Quando busco na memória ídolos de grande massa e capacidade de comoção social no Brasil, me aparecem logo de cara as figuras de Pelé e Ayrton Senna, dois esportistas e duas pessoas que fizeram, em épocas diferentes, muitos sentirem alegria, orgulho, admiração, patriotismo, esperança e união.
Não é a toa que dois atletas tenham se tornado mitos. O esporte traz uma herança em nosso imaginário coletivo desde a Grécia antiga, quando era uma forma de cultuar os deuses e celebrar a paz entre as cidades vizinhas. Os atletas eram cultuados como verdadeiros heróis e o vencedor das competições, acreditavam, se aproximava mais dos deuses.
Pelé, até hoje conhecido no mundo inteiro como rei do futebol, tornou-se um ícone não só desse esporte como símbolo do Brasil e em plena época de repressão militar fez com que milhares de brasileiro vestissem a verde e amarela da seleção canarinho com orgulho. Existem as controversas em torno de uma manipulação de sua figura como garoto propaganda da ditadura militar do Brasil pelo mundo. Uma tentativa de cegar a nação em torno do que acontecia nos porões das delegacias e amenizar as críticas sobre o regime totalitário. Caso tenham realmente se aproveitado de seu talento, isso não vem ao caso agora. O que importa é que de alguma maneira ele simbolizou para muita gente o espírito de união, trouxe esperança e orgulho para um país que vivia em estado de tensão.
Ayrton Senna era um piloto em tempos de democracia. Porém filho de uma época em que o Brasil vivia um momento de fragilidade econômica, desigualdade social e muito, mas muito pessimismo e falta de identificação com o país. Na década de noventa era difícil encontrar um cidadão que se intitulasse brasileiro ou tivesse orgulho de sua bandeira. No máximo diziam que eram, paulistas, cariocas, pernambucanos etc. Era na figura de Senna levantando a bandeira brasileiras aos domingo e tomando banho de espumante que o povo brasileiro encontrava seu orgulho. Além de ser o melhor piloto de Formula 1 do mundo, Ayrton era também admirado por suas qualidades pessoais. Não se envolvia em escândalos, era honesto e generoso.
Na minha opinião, estamos em dieta de um grande ídolo nacional desde então. No entanto, o Brasil vem se tornando, cada vez mais, motivo de orgulho para os seus cidadãos. Ainda tem muito o que melhorar? sim! Mas vale lembrar que, desde que os europeus impuseram seu estilo de sociedade e vida ao nosso país foram, apenas, pouco mais de 500 anos. E agora que o país engrenou não temos um ícone. A seleção de futebol, o grande orgulho do país, motivo de união entre todas as raças e todas as classes, aquela que fazia o brasileiro se sentir como uma verdadeira nação está em crise.
Será que o nascimento do ídolo, a constituição de um mito depende de um contexto de mal estar social? Começo a pensar que sim. Me parece que pessoas precisam estar desacreditadas para projetar em alguém aquilo que elas não possuem nelas mesmas e esperar que, de alguma forma, alguém realize algo por elas. Quando o ser humano pergunta para sí própria: Quem sou eu? E encontra na resposta um vazio, a figura do ídolo vem mostrar aquilo que a gente gostaria de ser. É assim que acontece com as religiões.
Que essa pergunta possa ser respondida por mais brasileiros, cada vez mais. E que a gente tenha não um ídolo em quem se apoiar, mas, vários ídolos a quem possamos admirar. Pessoas de caráter, honestas, felizes e realizadas no esporte, em casa e principalmente na figura de nossos governantes.